A Primeira Edição Brasileira de O Manifesto Comunista, de Marx e Engels no Brasil
... e os diálogos entre o PCB e o PCF
Capa da Primeira Edição Brasileira - Biblioteca Edgard Carone Museu Republicano - Itu/SP |
São muitos os pontos de contato entre a militância
brasileira e a francesa, particularmente na primeira fase de formação
política. Bastando lembrar que a primeira edição brasileira do Manifesto Comunista (1924) se fez a
partir da tradução francesa de Laura Lafargue (1886). Este e muitos outros
textos fundamentais de Marx, Engels, Lênin, Stálin, Bukhárin, Trotski, para
citar apenas alguns exemplos, eram via de regra vertidos do francês. O que torna interessante avaliar a questão editorial do ponto de vista das
relações franco-brasileiras com base em um quadro comparativo. Das obras que
circularam no meio comunista nesta e noutra parte do oceano. Das tiragens de alguns títulos de
formação. Das estratégias de difusão dos livros. E, por que não, como já foi
assinalado, uma avaliação do maior ou menor grau de independência das editoras
comunistas brasileiras e francesas em relação às diretrizes do Komintern.
Deve-se, todavia,
ponderar sobre as reais condições da vanguarda comunista brasileira em relação
à europeia. Como lembra Edgard Carone em seus estudos, apenas uma pequena fração dos militantes tivera contato com
a literatura marxista, o que lhes colocava a montante do movimento operário
como um todo. Para se ter um exemplo concreto do quanto a economia do livro
refletia a precariedade dos meios e das mentes na época, citemos ainda o caso
da primeira edição do Manifesto Comunista.
O livro consiste em uma pequena brochura de 48 páginas, impressa em papel
jornal, com tiragem de 2000 a 3000 exemplares (as informações são desencontradas). A tipografia se assemelha muito
a de um jornal, o que nos leva a pensar que os tipos e a composição tenham sido
feitos em pequena gráfica, especializada na impressão de efêmeros. Além disso,
uma única intervenção do tradutor, ao final do livro, diz muito sobre o
horizonte de expectativas dos dirigentes do Partido em relação aos militantes de modo geral:
Pedimos a todos os communistas e sympatizantes, a todas as associações operarias do Brasil, a todos os trabalhadores de terra e mas, dos rios e lagôas: 1o.) que leiam três, quatro vezes essa obra de Marx pedra fundamental do comunismo, procurando comprehendel-a o mais possível; 2o.) que os proletarios travem discussões em torno dela, nos syndicatos, nas fábricas, nos engenhos; 3o.) que transcrevam essas páginas immortaes no maior número possível de jornaes, de revistas, etc.; 4o.) que façam palestras, conferencias, em torno dos trechos mais importantes [...].
Ler muitas vezes. Compartilhar da leitura. Repetir. Discutir. Difundir. Parece evidente o duplo esforço do militante: traduzir um texto que tardou a ser editado por essas partes - se bem que, como demonstram outros estudos, particularmente o trabalho brilhante de Bert Andreas, o Manifesto teve um primeiro movimento de difusão circunscrito ao Velho Mundo; fazer com que o texto do livro se multiplique em outros suportes. E, esforço ulterior, que demonstra a desconfiança do caráter ainda embrionário da formação marxista naqueles tempos, a necessidade de se fazer entender o conteúdo através de reiteradas leituras.
Em breves linhas, podemos dizer que a questão intelectual e
de formação esbarrava com a falta de espaço para a organização de mecanismos
partidários destinados à publicação impressa. Essas práticas existiram sempre,
como o demonstram os memorialistas e os estudiosos do tema. Porém, elas jamais
foram institucionalizadas, uma vez que durante toda a sua existência raros
foram os momentos em que o partido agiu na legalidade. Além disso, quando
comparamos a estrutura editorial do pcb, relativa aos seus
primeiros vinte anos de funcionamento, com aquela observada na França, no mesmo
período, torna-se gritante o papel do Estado brasileiro como elemento
desarticulador das ações dos comunistas.
Em breve: Edição e Rebolução. Leituras Comunistas no Brasil e na França. Organizado por Marisa M. Deaecto; Jean-Yves Mollier. Cotia: Ateliê Editorial [no prelo].
Muy buena entrada, me pregunto sin embargo, cuál fue el caso de la literatura anarquista, de los libros de Ravachol o Bakunin, por ejemplo. ¿Hubo traducciones en el Brasil de comienzos de siglo XX? ¿Fueron traducciones de textos franceses? o ¿Hubo traducciones a partir de ediciones alemanas?
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