Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

terça-feira, 15 de outubro de 2013

Frankfurt Buchmesse 2013

A Cota Universitária na Frankfurt Buchmesse 2013 

Um Projeto Ambicioso e Bem-Sucedido

Detalhe do stand da CBL na Frankfurt Buchmesse 2013

Entre 8 e 13 de outubro a “Frankfurt Buchmesse 2013”, a mais prestigiosa feira de livros do mundo, rendeu-se ao Brasil. A presença massiva de artistas e de escritores brasileiros foi possível graças ao esforço conjunto do Ministério da Cultura, da Fundação Biblioteca Nacional, da Câmara Brasileira do Livro e de outras instituições e empresas editoriais.
Muito se leu sobre este acontecimento, antes e após a sua realização na imprensa brasileira. O Brasil virou notícia nas primeiras páginas dos jornais alemães e nossa literatura estava ali representada, em versões multicores, cobrindo um amplo espectro de nossa produção. Parece certo que o espaço nobre foi conferido à ficção, sobretudo dos autores contemporâneos, aqueles que no final das contas mantêm vivo o mercado editorial. Houve algum espaço para a produção acadêmica, embora em menor escala e de forma mais acanhada.  No fim das contas, são raros os intelectuais que concorrem de forma exitosa no apertado mercado de bens editoriais, o que certamente mantém um ciclo nada virtuoso entre o que se produz na academia e o que se vê nas livrarias, ou antes, na mídia.
Como melhorar esta equação? Seria mesmo necessário aprimorá-la? Afinal de contas, livro acadêmico deve ser lido por um público não acadêmico? Difícil responder a estas questões em poucas linhas. A bem da verdade, toda uma vida seria pouco para compreender as origens dos problemas colocados e suas possíveis soluções. Porém, alguma luz se projetou sobre as estantes universitárias na última Frankfurt Buchmesse e a Edusp teve um importante papel nesse sentido.
Detalhe do stand da Edusp
O stand da Edusp promoveu palestras com autores, exibiu suas edições e apresentou seu amplo catálogo. O esforço recebeu a acolhida do público que assistiu atento às palestras de Nádia Gotlieb, sobre Clarice Lispector, Jacques Marcovitch  sobre a questão da Amazônia, ou de Rubens Ricupero, sobre a política brasileira, ou ainda a prosa boa e musical de Ivan Vilela, para nos fixarmos em apenas alguns bons momentos.
Poucos conhecem, todavia, o poder dos livros universitários no mercado editorial. Na contracorrente do circuito comercial e da mídia, que insistem em ignorar sua presença, salvo em honrosas exceções, as editoras universitárias brasileiras ocupam uma parcela de 10% da produção nacional, de acordo com os títulos registrados no ISBN. A margem se torna ainda mais significativa no cenário latino-americano, onde a produção das editoras universitárias brasileiras corresponde a 28% do mercado, em relação aos nossos vizinhos, como podemos observar no gráfico abaixo.

E os percentuais se tornam ainda mais importantes quando os situamos no montante da produção brasileira expressa em números de títulos (57.573), de exemplares (485.261.331) e no faturamento do setor, que movimentou R$ 4.984.612.881,04, segundo os dados produzidos pela FIPE para o ano de 2012. Do total, o governo participou em 39% das vendas efetuadas, as quais se destinaram aos já tradicionais programas de ensino e incentivo à leitura. Difícil apreender a importante soma de livros negociados para o restante da clientela, noutros termos, para os 61% que perfazem as compras no mercado. E, ainda mais difícil, embora desejável, seria apreender deste montante a participação das editoras universitárias. O subsetor de livros técnicos, científicos e profissionais (CTP) é o menor deste conjunto, mas nada modesto, se considerarmos que ele participa com 35.448.346 exemplares produzidos no setor. Vem atrás dos religiosos, com 73.249.156. Um subsetor importante, considerando que, segundo os últimos dados apresentados na pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, a Bíblia continua em primeiro lugar nas preferências de nosso leitorado. As obras gerais somam 122.195.589 exemplares, perdendo apenas para os didáticos, cuja tiragem faz jus ao papel da escola – e do governo – na formação do leitor brasileiro: 122.195.589.
Em um esforço de desdobramento das estatísticas, poder-se-ia pensar que as edições universitárias se inserem nesses subsetores intermediários, ou seja, das Obras Gerais e dos chamados CTP. É claro que a avaliação depende do tamanho da editora e, por extensão, de seu potencial produtivo. Além disso, importa muito compreender se a editora tem bom desempenho no mercado. Geralmente apenas as editoras que trazem um nome forte – o da universidade que ela representa – e uma identidade forte, criada por seu catálogo e por sua tradição atingem este último objetivo.
E se a Edusp serve bem como um estudo de caso, como avaliá-la neste contexto? 
Ora, trata-se de uma editora de peso, pois sustenta um nome expressivo na sociedade. Conquistou ao longo de 50 anos de existência uma identidade e uma tradição. Mas seu catálogo e seu público não estão presos dentro dos muros da universidade. Muito pelo contrário. Assim como outras editoras universitárias de excelência atuantes no Brasil, seu catálogo perfaz as tendências do mercado de Obras Gerais, pelo menos de uma fração preocupada com a qualidade e com a edição marcada pelo debate intelectual, no campo da ficção e da não-ficção.  Confunde-se com o catálogo de editoras particulares, voltadas para este mesmo nicho de leitores, mas vai além, pois seu status lhe permite editar obras cujas vendas só podem ser pensadas a longo prazo. O que uma editora privada, por mais compromissada que pareça com a produção cultural de seu país, dificilmente faria.
Assim a presença da Edusp na Feira de Frankfurt 2013, ao lado das editoras filiadas à CBL, das editoras universitárias associadas à ABEU, ou de grupos privados suficientemente autônomos para bancar os custos de um empreendimento desta envergadura, constituiu um passo importante para o projeto de internacionalização da universidade e de seu importante patrimônio editorial. Vale frisar, o estante da Edusp foi o único a promover palestras cujas temáticas refletiam parte de nossa produção universitária. O que é muito, se considerarmos que a produção científica do país passou praticamente ao largo da grande vitrine brasileira que representou a Frankfurt Buchmesse deste ano.
Visão de conjunto das edições Edusp-Artes.
À guisa de conclusão, seria o caso de se perguntar – e a questão tem caráter meramente especulativo no estágio atual das investigações – em que medida as editoras universitárias poderiam funcionar, em certos países, ou em cidades onde a vida universitária ou o poder simbólico da universidade é algo notável, como um elemento impulsionador, ou mesmo de inovação para a confecção de catálogos entre as “editoras comerciais” de obras de não-ficção? Sobretudo aqueles catálogos voltados para o estudo das Humanidades. Para tornar a questão mais concreta e com cores locais, em que medida a Edusp ou mesmo a Edunesp e a Editora da Unicamp poderim intervir na caracterização geral do mercado de não-ficção, considerando seu poder simbólico no meio intelectual brasileiro?
Parece necessário olhar mais atentamente o catálogo das universitárias. Um olhar que extravase o império das paixões que de modo geral acometem os produtos intelectuais. Um olhar que busca compreender as editoras universitárias – tal qual o papel desempenhado pelas universidades – como um fator de inovação dentro do mercado editorial, através de seus setores mais dinâmicos.