Do Dicionário de Citações

Dupla delícia.
O livro traz a vantagem de a gente poder estar só e ao mesmo tempo acompanhado.
Mário Quintana

segunda-feira, 12 de março de 2018

As Bibliotecas de Maria Bonomi

Nas bibliotecas de Maria Bonomi todas as formas se multiplicam ao infinito


Atrevo-me a insinuar esta solução do antigo problema: A Biblioteca é ilimitada e periódica. Se um eterno viajante a atravessasse em qualquer direção, comprovaria ao fim dos séculos que os mesmos volumes se repetem na mesma desordem (que, reiterada, seria uma ordem: a Ordem). Minha solidão alegra-se com essa elegante esperança.

Jorge Luis Borges

Domos, cúpulas, cimalhas, colunas, janelas, portais, salões, alcovas, desvãos, corredores, galerias, armazéns, subterrâneos, armários, estantes, correntes, pinturas, talhas, pedra, mármore, granito, ferro, espelhos, vidro, aço... as arquiteturas das bibliotecas evocam o que há de mais avançado em termos de construção civil, no presente e no passado. É possível que essa tradição de se reservar aos livros um espaço nobre remonte aos tempos gloriosos da Biblioteca de Alexandria (s. III a.C.).Os cataclismos que atingiram a capital vibrante do Egito, na antiguidade tardia, reduziram os traços físicos da Biblioteca a imagens fugidias, registradas na literatura. Deve-se a Estrabão (63-20 a.C.) as melhores descrições do sítio e da planta do Museu (Mouseiôn, ou templo das musas). Sabemos hoje que a biblioteca não constituía um edifício independente, pois os livros eram depositados em estantes no grande salão do museu, ou nas bibliothékai, na acepção original grega. Donde a confusão metonímica que ativou durante séculos a imaginação das gentes na busca de um palácio dos livros.
Plinio Martins Filho e Maria Bonomi, editor e artista

No Atelier de Maria Bonomi,
 as gravuras em exposição

Na ausência de uma imagem que tenha fixado o modelo daquele antigo templo dos livros que o homem destruiu, mas que não se apagou da memória das civilizações, toda biblioteca se converteria, por extensão, em uma releitura do museu alexandrino. As primeiras bibliotecas que compõem esse volume testemunham a grandeza dos palácios reservados aos livros na Renascença italiana. Na richissime sala Sistina, da Biblioteca Vaticana, afrescos representativos das principais bibliotecas antigas (Babilônia, Cesareia, Pérgamo, Alexandria...) guardam a memória do mundo, ao lado dos mitos fundadores de uma civilização antiga, que fincara suas raízes no ocidente, embora tenha sido suplantada pela Igreja cristã.Essas imagens se multiplicam por séculos a fio e se traduzem, hoje, em uma arquitetura imponente, tecnológica, comandada pelo uso indiscriminado do concreto, do aço e do vidro. Novas bibliotecas surgem todos os anos, por todas as partes, desafiando as leis do espaço e as tecnologias de informação e comunicação. Alguns edifícios parecem planar sobre as cidades, outros se convertem nas próprias cidades. Uma cidade poderosa, guardiã da memória do mundo e dos reis, seguindo os modelos das bibliotecas principescas e religiosas do Antigo Regime, as quais demoravam a se converter em instituições nacionais, respondendo às ingerências de um século XIX em plena revolução. E uma cidade inteligente, agregadora, cidadã, seguindo os modelos em evidência nos tempos atuais.
Assim, os registros que compõem esse volume não pretendem esgotar as múltiplas possibilidades de edificação e décor das bibliotecas. Os traços de Maria Bonomi são recursos narrativos ou releituras de formas variadas que não se esgotam. Pelo contrário, suas bibliotecas se multiplicam ao infinito.
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LANÇAMENTO:
15/03/2018 - QUINTA-FEIRA, 18 HORAS
BIBLIOTECA GUITA E JOSÉ MINDLIN - USP

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